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Não sabe ainda se quer ou não ler este livro? Leia o primeiro capítulo e tire a dúvida!

Capítulo 1 - Introdução

 

Laura chega do trabalho. Com o marido, prepara um macarrãozinho para o jantar. Nada de mais: massa, tomates, orégano e cebola. Um vinho para acompanhar. Na hora de comer, um fio de azeite de oliva e um pouco de queijo ralado. Já satisfeita, toma um bom banho para relaxar, sabonete cremoso, xampu e condicionador para cabelos secos. Saindo do banheiro em seu roupão, deita-se, apanha um bom livro e lê até as pálpebras ficarem pesadas. Apaga a luz e adormece.
 

Uma cena que poderia acontecer em qualquer casa, com pequenas variações. Algo comum, tão comum que jamais Laura pensaria em tudo que se passou para que fosse possível desfrutar desse pequeno prazer doméstico. Ela com certeza não questionou o fato de o penne ter vindo da Itália, os tomates de Goiás, o orégano do Rio Grande do Sul, a cebola de Santa Catarina, o vinho da Argentina, o queijo da França, o azeite de Portugal, o sabonete, xampu e condicionador do Rio de Janeiro, o roupão dos Estados Unidos, a cama de Minas Gerais e a lâmpada de São Paulo. Como todos esses itens, vindos de tantos locais diferentes, foram parar na casa de Laura? A resposta é simples. Algo os levou até lá. E mesmo que em parte do processo esse algo tenha sido trem, avião ou navio, com certeza no mínimo a chegada ao supermercado, shopping ou outro estabelecimento aconteceu em um caminhão.
 

Todo mundo convive com caminhões nas ruas e estradas, muitos inclusive acham que eles atrapalham bastante o trânsito, mas poucos ligam o fato de o caminhão estar na estrada ao fato de a mercadoria estar em suas casas. Talvez não liguem as coisas porque simplesmente não se fala disso e também porque os produtos quase nunca faltam, não por problema no transporte. Só que o que quase ninguém sabe é que essa realidade pode mudar.
 

Existem hoje no Brasil dois milhões de caminhoneiros. Sem eles, por mais avançada que seja a tecnologia, o caminhão não roda. São eles que levam 58% de toda a mercadoria movimentada no País. Mas cada vez menos pessoas se interessam por essa profissão. As instituições ligadas ao setor falam em uma falta de 120 mil motoristas. Mas por que essa falta de interesse?   
 

Quando o assunto é caminhão e caminhoneiro, o que se pensa, no geral, é naquele barrigudo, sem camisa, de bermuda e chinelos, que fuma enquanto dirige com o braço para fora da janela. Anda por aí, conhecendo o País, sem se preocupar com chefe, escolhendo seus destinos e horários e arrumando uma mulher em cada parada. Ou leva uma vida cheia de aventuras e mais mulheres, como a do Pedro e do Bino, do seriado Carga Pesada. Mas a realidade está bem longe disso, e é essa realidade, de muito tempo fora de casa, acidentes (eles estão envolvidos em 33% deles, mesmo sendo apenas 5% da frota nacional), corrupção, carga horária excessiva, insegurança e baixa remuneração, que tem espantado novos e até antigos profissionais do setor.

 

Para investigar e conhecer essas condições de trabalho, que desestimulam a entrada e a permanência na vida de caminhoneiro, fiz uma viagem de seis dias na boleia de um caminhão. Foram mais de dois mil quilômetros percorridos pelo Nordeste do Brasil, ouvindo e vivendo o dia a dia do Fernando, do João, do Pé de Pano e tantos outros, para saber o que pode tirá-los da estrada e também o que os mantêm nela, trazendo e levando o que comi no almoço, a roupa que estou vestindo e este livro, que você agora começa a ler.

 

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